terça-feira, 2 de junho de 2009

Baca

A estrela maior já se despedia e sua esposa bailava triunfantemente no negror do céu. Passava das sete da noite e já era hora do ritual de caça. Era alva, sua pele, e dourado o tom das sua madeixas onduladas que pendiam até meio palmo da cintura. Tinha cerca de 25 anos e uma silhueta de causar arrepios. Tirou da bolsa, fiel escudeira, seu vestido rubro-sangue e sua sandália marfim. Arrumou-se, ajeitou-se. Pôs a meia de seda para adornar ainda mais suas pernas e coxas firmes e arredondadas. Maquiou-se: maçãs faciais rosadas e angelicais, um olhar negro-gato e os lábios vermelhos-fel. O relógio batia oito horas e estava atrasada, não podia perder mais tempo ali. Saiu do quartinho que alugara em Copacabana, somente para os fins de semana, e partiu - em passos largos - para a Av. Atlântica.
Estava bela, repugnamente bela e sabia disso. Fazia do asfalto a sua passarela e jogava os cabelos da maneira que só ela conhecia. Olhava os carros apressados e escolhia, minunsiosamente, a presa do dia. Até, que a 20 minutos de espera, surge um Siena da cor do seu traje e era aquele que queria. Lançou seu olhar palaciano de mulher que ali não vivia e ficou à espreita. O carro diminuiu a velocidade e veio em sua direção.
O motorista, um homem alto, robusto, de seus 30 anos de idade e um olhar azul marinho que a deixou fascinada, além da sua pele morena, mulata, sua cor preferida, abaixou o vidro e, levantando os óculos, dizendo: - Afim de algo diferente hoje?
A mulher de vermelho respondeu: - Faz-me o favor de abrir a porta primeiro.
O motorista achou aquele tom esquisito e o pedido ainda mais, mas com um torcer de lábios e um quebrar de pescoço, abriu a porta para ela entrar.
Em seguida, ele perguntou: - Pra onde vamos?
Ela respondeu: - À minha casa.
Novamente pareceu estranho a resposta ao motorista, mas era sexta-feira e ele acabara de terminar um noivado. Estava carente e enlouquecidamente bêbado; não iria, de forma alguma, perder tempo com suposições tolas e então, perguntou: - Onde é que fica?
- Eu te guio, disse ela.
E foram.
- Esse é o prédio, apontou. Ficava na esquina da Barata Ribeiro com a Siqueira Campos. Entraram.
Ela pediu que lhe esperasse no quarto e, se dirigindo até ele, o motorista tratou de despir-se para agilizar o processo.
Até que ela volta, ramo de videiras nos cabelos, corpo coberto de uma manta que se confundia com sua pele e tirso na mão.
Intrigado, o motorista pergunta: - O que é isso?
- Uma nova brincadeira, não se preocupe - ela dizia.
Amarrou-o na cama e, de repente, como uma leoa, estilhaçou primeiro a couraça humana e começou a comer a carne crua com as mãos. Estava, enfim, saciada.

0 comentários:

Postar um comentário