domingo, 31 de maio de 2009

A arte de fazer versos

Escrevivo, em cada palavra, um resquício íntimo de vida.
E vivendo em si, em cada letra, sonho histórias de áurea fantasia.
Crio, recrio e brinco com todas as sílabas.
Repetindo, repetindo, travando e descobrindo a língua.
Recupero, em cada uma, o seu interior dispercebido e além de terminologias, faço sorrir pingos, pontos e vírgulas.
Trago da dor, que me consome inteiro, tinta que escrevinha dores.
Porque a dor só existe enquanto onírica pulsão de refletir versos, exposição de meus intrínsicos amores.

sábado, 30 de maio de 2009

Cópula de Baca com Ofélia

Hoje, eu acordei assim: cópula de Baca com Ofélia. Alucinada em sair pelas ruas, cortando gargantas, ao mesmo tempo que me deixo esvair na fonte de lágrimas que me embaça os olhos. É... Definitivamente, não acordei pro mundo hoje. Não acordei com o deleite de dizer "bom dia" e, muito menos, de admirar a paisagem que está a minha volta. Admito que me apetece o desespero. Admito ainda que é quase um salivar de chocolate. A loucura é infinitamente bela. Entre choros e suspiros, me pego sorrindo; às vezes, sem nenhuma razão aparente. E não é simplesmente porque sou infeliz. Infelicidade, sem dúvidas, é uma questão de prefixo, mas carrego nas costas - hoje - uma cruz de marfim. Fico me imaginando dilacerando-o. Ele, o homem que me tira o sono. Como eu sentiria prazer em vê-lo sofrendo, humilhado, pedindo comiseração com seus olhos suados e sua boca num púrpura pálido. Como me dói essa escravidão que me subestima. Escrava sim, essa é a palavra exata. Sou escrava desse amor sem limites e sem piedade. E como ele se sente repleto. Vê-se na sua entoação cínica e desdenhosa. Mas não, eu não tenho coragem. Meu lado Ofélia toma as rédias e não permite que eu o confraja em carne moída e continuo o dia no leito do rio, no fundo das águas...